sexta-feira, junho 15, 2007

O abraço

Ele tem um aspecto relativamente... normal. Ela parece ter vindo directamente de Woodstock e, quando passam a correr por mim, os guizos que a rapariga leva pendurados no cabelo e nas pulseiras irritam-me. Entram no mesmo autocarro, no 14. Ela não deve ter mais de 16, 18 anos. Poderá ter mais, mas o sorriso, a vozinha de criança, a alegria do olhar fazem com que pareça ser muito nova. ele parece mais velho. Uns simples jeans e uma camisa discreta. Vão em pé no autocarro, como eu. Ela tem um vestido verde com pintas brancas até aos pés, com um peitilho e alsas cruzadas nas costas. O cabelo está entrançado e na orelha que consigo ver pendem meia dúzia de piercings, todos colocados no mesmo furo. Ela fala ao telemóvel com voz de menina pequena. Quando volto a olhar para os dois, vejo que estão a falar com os rostos muito próximos. Ela exibe um sorriso denunciador: está apaixonada. De repente abraçam-se. Durante uma eternidade. No meio da confusão de gente cinzenta que vai para o trabalho, o abraço forte e quente daqueles dois faz todo o sentido para mim. E penso que gostava de ter um vestido verde com bolinhas brancas.