quarta-feira, setembro 26, 2007

O homem do soutien

Desço a Rua Garrett apressada (mas porque é que eu ando sempre apressada se ninguém me espera?...) e ouço um cântico. Procuro localizar quem canta e dou com a improbabilidade em pessoa. O homem atravessa a estrada, abandona os magros pertences no passeio, junto à esquina, e vai a cantar, olhando as pessoas. Tem uma saia ou uns calções largos, não consigo perceber, e a cobrir-lhe o peito um alvo soutien branco. Almofadado. Não canta mal, não senhor... Olho para trás mais uma vez e desço pelas escadinhas, por onde ecoa ainda a voz harmoniosa e tranquila. É por isto que gosto de Lisboa.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Sem papas na língua

Sigo, de passo apressado, pelos cruzamentos de gente anónima de olhos ausentes. É tarde, muito tarde, estou atrasada, muito atrasada. Não olho para o relógio, pois deixei de usar tal acessório há cerca de três anos. Paro ao sinal vermelho, na passadeira passam carros e carros e mais carros. Finalmente posso avançar e um magote de pessoas cruza-se comigo sobre as riscas brancas. No meio deles, um homem cujo aspecto não me recordo - o segundo em que nos cruzámos foi demasiado rápido e o meu olhar ia absorto no horizonte lá mais à frente - grita a plenos pulmões para o ar: "Eu quero é putas!"
Sorrio.