quinta-feira, abril 12, 2007

A mão entalada

Estou à espera do 15, como habitualmente. O eléctrico chega, é um dos grandes, parece que vai cheio. Faço o gesto já mecânico de carregar no botão para abrir a porta. A porta não abre. Quando levanto o olhar descubro, horrorizada, uma mão. Um homem, do lado de dentro, tem a mão entalada na porta. Ainda que esteja acomodada entre duas borrachas, penso que aquilo deve estar a doer à brava. Dirijo-me, em sobressalto, para a porta ao lado. Entro e espero encontrar um ambiente de emergência, pessoas aflitas, alguém que ajude o homem a retirar a mão. Não encontro nada disso. Para meu espanto, os passageiro viajam tranquilos. Olho para o homem e vejo que viaja serenamente, em pé, junto à porta, com um cigarro por acender pendurado na boca. Parece estar estranhamente confortável, como se fosse um acto diário ir até ao Cais do Sodré com a mão entalada na porta.

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