terça-feira, março 20, 2007

O acrobata

É quase meia-noite. Um homem magro, de raça negra, cerca de 30/35 anos, anda pelo autocarro 45. Balbucia frases, mas não se percebe o que diz. Acena pelas janelas, dirige-se aos passageiros de uma ponta à outra do autocarro. No meio do corredor, segura-se em duas pegas, uma de cada lado, e levanta as pernas do chão, tenta fazer algo parecido com uma cambalhota. O revisor, que vai junto do condutor, adverte-o: “Isto não é nenhum circo para estares a fazer acrobacias!”. Tenho uma vontade incontrolável de rir e viro-me discretamente para a janela. Apetece-lhe brincar, por isso, brinca. O homem dirige-se à retaguarda do autocarro e mete conversa com os passageiros. Chega a mexer na cabeça de um rapaz que vai a ouvir música, que o afasta, com ar de poucos amigos. O homem começa então a brincar com o martelo que serve para quebrar o vidro em caso de emergência, puxa o fio e segura-o com os dentes. Nesta fase começo a ficar preocupada com o que se seguirá. Mas ele levanta-se, dá mais umas voltas pelo autocarro. Diz qualquer coisa como “vou cair”. Mas não cai. Vai-se metendo com algumas pessoas. Uma rapariga muda de lugar. O homem sai nos Restauradores. Reparo, antes de ele sair, que tem a braguilha aberta.

Sem comentários: