sexta-feira, março 30, 2007

O homem que não fazia sentido

Chego-me para o lado com medo das pulgas, com medo que me pegue alguma “coisa má”. Na cabeça o capachinho mais ridículo que alguma vez vi na vida, um amontoado de cabelos castanhos brilhantes e gordurosos, na estreita linha entre o gel e o não lavar a cabeça. Por baixo um grisalho desorganizado, que imagino não ser cortado há meses. De volta aos cabelos castanhos continuo a estranhar a cor, como se roubados de alguma outra festa, feita de madeixas e flashes. O homem abre um jornal, escrito numa língua estranha, de letras viradas ao contrário. Vai directo a uma página, sem precisar de marcação, mas como quem continua um livro. Apesar de não conseguir ler, percebo que é um anúncio. Quem é que lê um anúncio aos bocados?
Não aguento e levanto-me, antes do metro chegar à minha estação, fico em pé especado e descubro fios pretos, sem saber se não estão presos à própria cabeça. Na cara um risco castanho, uma linha no meio da barba, que desafia o desalinho dos pelos. As unhas estão sujas e eu desisto de tentar perceber.

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